domingo, 15 de novembro de 2009

A Beleza do Óbvio


“Uma das alegrias da ciência é de vez em quando ver um padrão que revela a ordem do que inicialmente parecia caótico.” (p. 71)
Esta foi a frase mais admirável do livro cuja leitura acabo de concluir. Trata-se de “A História de quando éramos peixes” (originalmente “Your Inner Fish” (2008)), do paleontólogo expedicionário Neil Shubin, lançado no Brasil pela editora Campus.
A obra trata basicamente das relações filogenéticas, comparando diversas regiões anatômicas entre as espécies, demonstrando as inúmeras evidências do processo evolutivo, que cegamente adaptou diferentes formatos de ossos e órgãos às diferentes necessidades das espécies, de maneira que hoje podemos dizer que herdamos, por exemplo, soluços e hérnias de nossos parentes peixes.
Mas o que eu queria mesmo comentar sobre esta obra (por sinal, de leitura altamente recomendável) é que é muito bonito ver um autor descrever, com qualidade (no estilo “divulgação científica”) tantas informações relevantes em pouco mais de 170 páginas.
A obviedade dos fatos também é impressionante. Enquanto ele está relatando as pesquisas (ele é bem detalhista nessas partes) você vai processando os problemas em seu humilde cérebro, em busca de uma solução inteligente para os dilemas com os quais se depararam vencedores do Prêmio Nobel, e quando enfim chega ao resultado final, você pensa duas coisas: “Claro! Puxa, como não pensei nisso?” ou então (para que os fãs do Chapolin possam rir um pouco) “Era exatamente o que eu ia dizer!”.
Ou seja, quando lemos a resposta para um problema científico complexo, ela muitas vezes nos parece óbvia, e muitas vezes de fato o é: contudo, precisou haver um gênio entre milhares, para decifrar esse obviedade. Quem não acha super divertido, sacudir uma caixa de cereais matinais típicos para humanos na frente do cachorro domesticado, que já fica balançando o rabinho (quando tem, né?) e pulando afobado sobre a tigela vazia de ração, pensando que você vai lhe dar comida? Cena bonitinha, né? E óbvia também, né? Afinal, ele deve ter associado o barulho (que parece com o de ração) com comida, e por isso se comporta dessa forma! Puxa, que legal! Se você tivesse apresentado essa teoria (e provado) em 1903, teria ganhado o Prêmio Nobel em fisiologia, no lugar do barbudo Ivan Pavlov! Podemos citar, inclusive, a Teoria da Evolução por Seleção Natural (e “Sexual”, muita gente esquece dessa)! Um construto tão óbvio e ainda assim elegante, ao ponto de Daniel Dennett e outros eminentes filósofos da ciência terem proclamado que Charles Darwin teve “A melhor idéia de todos os tempos!”.
O que estou querendo dizer aqui é que uma explicação bonita (para qualquer fenômeno) não necessariamente é misteriosa e cheia de floreios, que diz muitas coisas sem dizer nada, que se considera “incapaz de contemplar o fenômeno em sua totalidade” (ou seja, não sabe responder!). O próprio Richard Dawkins abre seu livro “Deus: Um Delírio (no original: “God Delusion” (2006)), citando Douglas Adams: “Não é o bastante ver que um jardim é bonito sem ter que acreditar também que há fadas escondidas nele?”. Um conselho: Diante de evidências, dê mais valor à beleza da obviedade!


2 comentários:

  1. OLÁ THALES.
    DUAS VEZES PARABÉNS POR MAIS ESTAS CONQUISTAS.
    O BLOG E TER SIDO SELECIONADO PARA O CURSO DE NEUROCIÊNCIAS EM PORTO ALEGRE. VOCÊ SE SUPERA SEMPRE. ALÉM DO MAIS ESCREVE MUITO BEM. É SEMPRE AGRADÁVEL LER OS SEUS TEXTOS, ELES FLUEM COM SIMPLICIDADE SEM PERDER A PROFUNDIDADE NAS IDEIAS.
    PROF RANGEL

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