segunda-feira, 16 de novembro de 2009

COMO E PORQUE DIFERENCIAR O “COMO” DO “POR QUE”?


Existe uma enorme confusão (tanto por parte de cientistas, quanto do público leigo) quanto à correta utilização de termos do tipo “Como” e “Por quê”. Um engano que, contudo, nunca passa despercebido aos olhos de um evolucionista. Isso porque o “como” está relacionado às causas proximais de um fenômeno, como descrito primorosamente por Steven Pinker na primeira parte de seu livro “Como a Mente Funciona” (originalmente “How the mind Works” (1997)), onde ele busca descrever os mecanismos computacionais que regem nossas cognições. Em contra-partida, o “Por quê” é um termo que se refere às causas finais, mais relacionado à segunda parte do livro de Pinker, onde ele vai descrever as principais pressões evolutivas que moldaram os sistemas computacionais descritos na primeira parte. De fato, ele vai explicar “porque” a mente funciona da forma “como” funciona.
A literatura evolucionista serve de exemplo para o uso adequado da terminologia: “Por que os homens jogam e as mulheres compram sapatos?” (originalmente: Why beautifull people have more daughters? (2006)) escrito por (na realidade) apenas Satoshi Kanazawa (pois, como relatado no prefácio, o outro autor identificado: Alan Miller era um eminente pesquisador na área, e colega de Satoshi, mas faleceu antes sequer que o livro começasse a ser escrito, contudo seu nome foi colocado como forma de homenagem, afinal a idéia de escrevê-lo foi dele) vai descrever diversas pressões evolutivas que moldaram diferentes comportamentos humanos (desde gênero, à religião, passando por relações familiares e agressividade). Em “Por que Mentimos” (originalmente Why we Lie (2004)), David Livingstone Smith descreve porque os mecanismos tanto de mentira, quanto de detecção da mentira estão presentes em todos nós e quais os imperativos evolucionistas atuaram para nos deixar esta marca. Em outros dois livros que abordam temas idênticos: “Por que amamos” (originalmente Why we Love (2004)) de Helen Fisher e “Por que nos Apaixonamos” (originalmente Comment devient-on amoureaux? (2004)) de Lucy Vincent, tratam tanto do “como” (através das descrições dos sistemas neurais envolvidos nas diferentes fases desse sentimento) como também do “porquê” (explicando as razões evolucionistas de cada estado amoroso).
Em função dessa terminologia evolucionista, que atualmente se aplica a todas as ciências, quando se formula uma pergunta do tipo “Por que o bocejo é contagioso?” a resposta que você precisa fornecer pode até contemplar o mecanismo neural que controla tal comportamento, mas o fundamental é esclarecer justamente “por quê?” tal mecanismo “sobreviveu” à seleção natural e se manteve até hoje em nosso cérebro.
É... Daqui para frente, sempre que você assistir à propaganda da TV Futura dizer: “São as perguntas que movem o mundo, não as respostas” vai concordar plenamente, afinal, de fato, dependendo da pergunta, a resposta pode ser totalmente diferente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário