quinta-feira, 26 de maio de 2011

Nossa Natureza Ciumenta


Quando vemos cenas como as divulgadas no dia 10 de Maio referente ao jovem de 18 anos que foi espancado e esfaqueado com por outros rapazes (a maioria já detidos) devido ao ciúme, na saída de uma boate de Jaraguá do Sul – Santa Catarina, despertamos em nossa mente o instantâneo questionamento acerca do porquê de tal comportamento brutal.
Para responder a isso, eis que surgem vários especialistas que tentam explicar este comportamento como sendo resultado da falta de limites dos pais e da sociedade contemporânea. O que eles não conseguem explicar é que atos violentos e/ou assassinatos movidos por ciúme são uma realidade em todas as culturas humanas, em todos os tempos da humanidade, independentes da forma como os filhos são criados.
O ciúme é um sentimento extremamente primitivo, altamente adaptativo e muito importante para o comportamento sexual de uma série de exemplos do reino animal (incluindo nós seres humanos). Ele tem a função de monitorar e assegurar a confiança do(a) parceiro(a), sendo engatilhado por estímulos diferentes entre os gêneros. Pesquisas de extremo reconhecimento científico já comprovaram que, em média, o ciúme masculino é desencadeado por sinais de infidelidade sexual, enquanto que o ciúme feminino é desencadeado por sinais de infidelidade afetiva. Isso quer dizer que os homens ficam mais enciumados quando vêem, ou pensam que sua companheira os está traindo sexualmente, e mais, em homens mais velhos o alvo da violência movida pelo ciúme tende a ser a companheira, enquanto que em rapazes jovens o alvo tende a ser o rival. Este nosso instinto de sentir ciúmes e, a partir dele, se comportar de forma mais agressiva que normalmente nos comportamos, explica (mas não justifica) o que aconteceu na madrugada do último sábado. Afinal, a vítima foi atacada até a morte por um rapaz enciumado com o possível “clima” que aconteceu entre ele e sua suposta namorada dentro da boate, que convocou colegas leais para ajudá-lo na vingança ciumenta.
Mas vale ressaltar que, apesar de o ciúme nos fazer agir de forma mais agressiva que o normal, nem todos nós esfaqueamos parceiras ou parceiros (sim, existem homicídios cometidos por mulheres movidas por ciúme) por causa disso. Neste caso de violência extrema, é necessário levar em consideração outros fatores que possam ter desencadeado uma resposta tão exacerbada. Talvez o agressor estivesse sobre o efeito de algum tipo de droga (fato que ainda não foi negado, ou confirmado), pois sabemos que determinadas drogas agem desbloqueando nosso “freio comportamental”, nos fazendo agir de forma mais agressiva que o normal; ou talvez ele possua de antemão uma estrutura de personalidade que naturalmente fomenta condutas agressivas, o que pode ser confirmado com base em seu histórico pessoal de brigas e/ou comportamentos anti-sociais manifestados ao longo da vida. As mesmas observações servem para os colegas que aceitaram participar deste crime. Friso que tais apontamentos são apenas hipóteses não confirmadas acerca destes possíveis desencadeadores do ciúme devastador, e que têm um caráter unicamente explicativo, não tendo por objetivo justificar o assassinato cometido.
Mas como lidar com uma motivação com propriedades tão violentas, e que é tão mais antiga que a própria humanidade? Antes de mais nada é necessário termos sempre em mente que, apesar de vivermos numa sociedade altamente desenvolvida, tendo acesso a tecnologias que permitem vigilância constante (como a câmera que filmou o assassinato), ainda assim somos regidos por impulsos primitivos instalados em nossos cérebros ao logo de todo o processo evolutivo, como por exemplo o ciúme. Diante disso, somos capazes de ter o bom senso de analisar melhor nossas empreitadas românticas, descobrindo que em um ambiente escuro, fechado, ao som de música alta, e rodeado de consumo de drogas lícitas (e às vezes até ilícitas), flertar com alguém desconhecido pode acabar muito mal. A nossa natureza que responde ao amor não está adaptada a esta configuração social atual de “ficar”. O amor é uma coisa séria, por isso, abordar alguém desconhecido, sobre o qual não sabemos nada acerca de relacionamentos passados, ou mesmo presentes, num ambiente potencialmente hostil (como numa boate), é algo que precisamos ao máximo evitar, pois nessas condições, não temos como saber – até para nossa própria proteção – se entre nossa ligação com alguém que à primeira vista parece “fantástico(a)” existe um potencial assassino se roendo de ciúme.

Referências:

BUSS, David. A Paixão Perigosa: Por que o ciúme é tão necessário quanto o amor e o sexo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
ESTADÃO. Três são detidos por suspeita de agredir jovem até a morte em SC. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,tres-sao-detidos-por-suspeita-de-agredir-jovem-ate-a-morte-em-sc,717273,0.htm
GAZETA DO POVO. Presos 3 suspeitos de agredir jovem até a morte em SC. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1124312&tit=Presos-3-suspeitos-de-agredir-jovem-ate-a-morte-em-SC

Nenhum comentário:

Postar um comentário