
“Feliz Ano Novo! Muita saúde, amor, sucesso e... paciência!”. Esse é um voto de felicidade genérico, e comumente todos nós ouvimos algo parecido, na “Noite da Virada” (geralmente seguido por um aperto de mão, um abraço, um beijo, ou seja lá o que o clima de festa e a bebida permita expressar). Mas qual o mecanismo neural da paciência? Calma, calma! Primeiro é preciso entender porque é tão importante ser impaciente quando se trata de estudar as bases da paciência.
Você já teve paciência para pensar acerca da importância da paciência para a vida cotidiana? Desde a nossa infância, até a velhice, quantas vezes nos vimos e nos veremos obrigados a esperar pela realização de algum desejo. Quantas vezes não esperamos e acabamos escolhendo uma opção que futuramente se revelou insatisfatória, ou mesmo prejudicial? Quão paciente você está, neste momento, ao ler este texto, e quão impaciente você está, neste momento, por saber o desfecho do artigo?
Vejo a “paciência/impaciência” como uma contradição potencialmente capaz de definir nossa história. Desde acordar a ir deitar, escolhemos inúmeras vezes. Escolhemos levantar da cama, em detrimento de continuar dormindo; escolhemos escovar nossos dentes, em detrimento de manter a sujeita que nele acumulou desde a última escovação; escolhemos ir trabalhar em detrimento de ficar em casa... Todas essas escolhas envolvem ganhos imediatos, e também prejuízos imediatos. A questão é: “Quão rápido nós queremos ganhar e perder?”. A rapidez com que as escolhas são tomadas depende do nosso grau de paciência/impaciência no momento, logo, a existência ou não desta habilidade é capaz de modificar significativamente nossa vida, seja para melhor, seja para pior. Ai está a importância de conhecermos o mecanismo biológico responsável por controlar a manifestação deste fenômeno tão crucial em nossas vidas.
Vamos à pesquisa!
No estudo (publicado na Nature Neuroscience por Figner e colaboradores) era apresentado aos sujeitos duas opções: 1) Receber uma pequena quantia em dinheiro em pouco tempo; 2) receber uma quantia significativamente maior de dinheiro, após um período de tempo maior. Os pesquisadores utilizaram o método não invasivo de Estimulação Magnética Transcranial (TMS, sigla em inglês) para "bloquear" momentaneamente a atividade do córtex pré-frontal lateral dos sujeitos durante o experimento, e eles evidenciaram que, sob o efeito da TMS os sujeitos tendiam a escolher a opção que fornecia ganhos imediatos, em detrimento da opção que exigia paciência para receber maiores importâncias no futuro. Porém, após passado o efeito da TMS, os sujeitos tendiam a escolher a segunda opção.
Evidenciou-se que o córtex pré-frontal lateral é crucial na tomada de decisão que envolve adiar um pequeno ganho imediato em prol de um ganho futuro maior, ou seja, o Córtex Pré-Frontal Lateral é o substrato neural da paciência humana. Levando-se em consideração que o córtex pré-frontal é uma das últimas áreas cerebrais a ser completamente mielinizada, está explicado porque crianças e adolescentes são tão impacientes (cuidado para não confundir uma "explicação científica" com uma "justificativa", crianças e adolescentes TEM SIM que obedecer a certos prazos, e isso exige certo grau de paciência que, embora não seja uma capacidade plenamente desenvolvida em seus cérebros, pode muito bem se manifestar, com certo esforço).
Porém, o que ainda não se sabe é "como" e "o que exatamente" essa região cerebral realiza, para impedir que realizemos escolhas precipitadas. Porém, os pesquisadores acreditam que o papel do córtex pré-frontal lateral seja agir como um "controle" comportamental, "autorizando" ou não uma decisão tomada por outras regiões pré-frontais.
A questão é que o primeiro passo foi consolidado: descobriu-se a importância do córtex pré-frontal lateral no processamento da paciência. Podemos ficar mais tranquilos com essa descoberta inicial, mas não devemos ficar pacientes, afinal, como comenta o resenhista:
What causes lateral prefrontal cortex to be engaged during decision-making, why might it be engaged more in some decisions than in others and how does this computation affect processing in other brain regions? (p. 524)
E então... Quem será impaciente o suficiente para resolver algum destes enigmas no tempo mais curto?
Fonte: KABLE, Joseph. Just a little (lateral prefrontal) patience. NATURE NEUROSCIENCE, vol. 13, nº 5, 2010.
Gostaria de te parabenizar pela qualidade do blog. Assim que tiver um tempo leio com mais calma as matérias.
ResponderExcluirUm grande abraço
Eduardo S. B. Pardal